Hoje eu acordei, abri a porta do quarto, ela não abriu, sai assim mesmo. Desci, disse bom dia pra minha família, ninguém respondeu. Sentei no sofá, ele não afundou, o gato me olhou. Minha irmã comentou que eu estava demorando pra acordar. Caramba, estou dormindo, estou sonhando, que sonho estranho, me sinto esquisita, quero acordar. Morri.

Posso ir à casa de alguém ver como será a reação. Penso pra casa de quem eu vou. Ninguém. Não me interessa e eu sei como vai ser. Nooossa, de quê, tão jovem.

Começo a me preocupar com minha família. Vai ser duro pra eles. Eu não ligo para morrer, está até interessante. Eu queria que eles soubessem, que eu não ligo, que está interessante.

Vou ao quarto ver como está meu corpo, se posso arrumar alguma coisa, mas estou com medo, pode ter fantasma. Eu sempre fui cínica. Chego lá, porta fechada, passo a porta, escuro, mas nem tanto. Está tudo como eu deixei. Estou preocupada, alguma hora alguém virá tentar me acordar. Eu não consigo mexer nas coisas, não sou mais mundo. O gato me viu, eu acho. A mesma ansiedade morta que eu sentia viva. Ridículo. Em uma semana deve estar tudo bem. O quê fazer? Assombrar? Gatos, né. Eu gosto de gatos.

Deixa eu ver se não tem nada mesmo que eu possa fazer. Vou pra rua. Tá chovendo. Passa alguém, eu ajeito o pijama, não me vê. O pijama é legal, sorte que eu dormi com ele. Saio andando, estou de meias na chuva, posso pegar uma gripe.

Pra onde eu vou. Vou procurar os iguais. Vou em direção ao cemitério. Estou receosa, estou com medo. Vou andando, mas devagar. Andando, pensando, e temendo os fantasmas. Será que eles usam sapato. Queria um sapato, se eu soubesse, dormia de sapato.

É tudo igual, morrer ou não morrer, a vida segue.

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